"Primeiro Deus criou o homem, mas depois... bom, depois Ele teve uma idéia melhor", bem melhor!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Que solidão que nada, eu preciso é ser amada, eu preciso é ser feliz...

"Solidão, dá um tempo e vá saindo, de repente eu tô sentindo, que você vai se dar mal. Solidão, meu amor está voltando, daqui a pouco está chegando, me abraçando todo meu, meu, meu... A solidão é nada. Você vem na hora errada, em que eu não te quero aqui. Que solidão que nada, eu preciso é ser amada, eu preciso é ser feliz..."


Não lembrava que esta música foi escrita pelo Chico Buarque, apenas que foi imortalizada na voz da Sandra de Sá, mas hoje a sinto bem significativa, pois uma amiga querida me fez lembrar dela. Pronto, bateu vontade de falar de solidão.
 
Então me pergunto: solidão tem tamanho? Difícil sentí-la pequena, justinha. Geralmente, a solidão é larga, comprida, como uma camiseta que poderia vestir várias pessoas ao mesmo tempo. Até porque é com outras pessoas que tentamos combater a solidão.

Martha Medeiros um dia escreveu que se a solidão pudesse ser visualizada, ela seria um vasto campo abandonado, um estádio de futebol numa segunda-feira de manhã. Dói, mas tem poesia. Talvez seja por aí que devamos reavaliá-la: no reconhecimento do que há de belo na sua amplitude.

A solidão não precisa ser aniquilada, ela só precisa de um sentido. Eu não saberia dizer que outra coisa mais benéfica há para isso do que livros. Uma biblioteca com mil volumes é um exército que não combate a solidão, mas a ela se alia.

A solidão costuma ser tratada como algo deslocado da realidade, como um tumor que invade um órgão vital. Ah, se todos os tumores pudessem ser curados com amigos. Uma pessoa que não fez amigos não teve pela sua vida nenhum respeito. Nossa solidão é nossa casa e necessita abrir horários de visita, hospedar, convidar para o almoço, cozinhar com afeto, revelar-se uma solidão anfitriã, que gosta de ouvir as histórias das solidões dos outros, já que todos possuem seus descampados.

A solidão não precisa se valer apenas do monólogo. Pode aprender a dialogar e deve exercitar isso também através da arte. Há sempre uma conversa silenciosa entre o ator no palco e o sujeito no escuro da platéia, entre o pintor em seu ateliê e o visitante do museu, entre o escritor e o seu leitor desconhecido. Ah, os livros, de novo. De todos os que preenchem nossa solidão, são os livros os mais anárquicos, os mais instigantes. Leia, e seu silêncio ganhará voz.

Às vezes, tratamos nosso isolamento com certa afetação. Acendemos um cigarro na penumbra da sala, botamos um disco dilacerante e aguardamos pelas lágrimas. Já fizemos essa cena num final de domingo - tem dia mais solitário? É comum que a gente entre na fantasia de que nossa solidão daria um filme noir, mas sem esquecer que ela continuará conosco amanhã e depois de amanhã, deixando de ser charmosa e nos acompanhando até o supermercado. Suporte-a com bom humor ou com mau humor, mas não a despreze.

Permita que sua solidão seja bem aproveitada, que ela não seja inútil. Não a cultive como uma doença, e sim como uma circunstância. Em vez de tentar expulsá-la, habite-a com espiritualidade, estética, memória, inspiração, percepções. Não será menos solidão, apenas uma solidão mais povoada. Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão, escreveu Baudelaire.

Um comentário:

  1. Olá Fernanda! Não repare em minha visita relâmpago, mas venho lhe convidar para ler o novo capítulo de “O Diário de Bronson (O Chamado)” e deixar o seu comentário.

    Retornarei com melhores modos e mais tempo. Tenha um ótimo final de semana. Abraço do Jefhcardoso!

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